Alex Ferreira fala sobre paternidade e novas músicas

Em nossa série de perguntas e respostas Tell Me Más, pedimos a alguns de nossos artistas latinos favoritos que compartilhem algumas informações privilegiadas sobre suas vidas e hábitos, revelando tudo, desde suas leituras mais recentes até as músicas que os entusiasmam. Este mês, fomos ao Joe’s Pub, no histórico East Village, para ver o cantor e compositor indicado ao Grammy Alex Ferreira subir ao palco e conversar com ele sobre seu mais recente projeto, a paternidade, e como ele está equilibrando os dois.

O camarim de Alex Ferreira no Joe’s Pub é pequeno e esparso, sem muitos pertences pessoais ou mesmo instrumentos. Há um case de guitarra ao lado, uma mochila próxima em uma cadeira de couro, e o próprio cantor sentado de lado em frente à penteadeira iluminada – seus cachos característicos caindo na frente de seu rosto. É um ambiente despojado, adequado já que mais tarde à noite Ferreira subirá ao palco apenas com um violão e uma caixa de som e levará o público em uma jornada completa de amor, desgosto e tudo mais. Mas agora ele está sorrindo, aparentemente em seu elemento: em um quarto nos fundos, em uma cidade grande, enquanto está na estrada.

“Adoro fazer turnês. Adoro ir a países diferentes, conhecer pessoas diferentes. É uma grande inspiração para mim”, disse o artista ao PS.

Como artista totalmente independente, Ferreira entende que tem muita sorte de poder viver da sua música. Mas isso geralmente acontece com longos períodos longe de casa, então é bom que ele adore fazer turnês. Esta turnê atual o viu em movimento desde o ano passado. Ele já se apresentou por toda a Espanha e tem paradas futuras no México. Sua passagem de duas noites em Nova York encerra a seção dos EUA que o teve em Miami e Porto Rico. Porém, tendo sido pai recentemente, Ferreira admite que não tem muito tempo para frequentar estes locais como antes.

“Quero estar com a minha filha. Sinto que este é um momento muito importante na vida dela, no seu primeiro ano… a responsabilidade que tenho como pai é muito maior do que a da minha vida artística”, afirma.

Isto é especialmente verdade porque, na sua vida artística, Ferreira está bastante consolidado. Tendo feito sucesso desde 2010 com um estilo de cantor e compositor que incorpora uma dose saudável de experimentação e mudança de gênero, ele sabe quem é como artista. E seus fãs também.

Mais tarde, a multidão vai crescer em uníssono, cantando junto com o cantor de uma forma tão natural que parece ensaiada. Esse é o tipo de músico pelo qual Ferreira é conhecido. É a música que pode tornar o ambiente pequeno. Ele está contando piadas em um minuto e, no minuto seguinte, cantando com tanta vulnerabilidade que é difícil não se emocionar.

No entanto, em casa, ele ainda está se adaptando ao seu papel de pai.

“Tudo é novo. Cada etapa do processo traz um novo desafio. Cada etapa é um aprendizado e não há manual, não há universidade para te dizer essas coisas. Você aprende na hora”, pondera Ferreira.

Um desses desafios? Encontrando tempo para escrever e trabalhar em seu próximo álbum enquanto é pai em tempo integral.

“Antes eu podia – e odeio essa palavra, mas – eu podia procrastinar um pouco. Agora não posso”, diz ele. “Se tenho uma hora para trabalhar, não posso perder tempo. Então agora meu processo criativo é muito mais eficiente.”

Ele agora vê compor como ir à academia. Para fazer isso, ele precisa de um pouco de consistência, dedicando algumas horas do dia para tocar, escrever e praticar antes de colocar a caneta no papel e criar uma música.

Mas isso não significa que fazer música tenha se tornado apenas mais um exercício para o artista veterano. Falando sobre seu próximo projeto, “Versiones Para El Tiempo Y La Distancia Vol. 2”, Ferreira compartilha que deseja continuar a refinar o som que vem criando na última década, ao mesmo tempo em que experimenta ainda mais a mistura de elementos de rock, bachata e outros gêneros em uma experiência única. Podemos esperar mais disso em seu próximo álbum.

“Da mesma forma que a paternidade é um processo de mudança, acho que minha carreira e minha discografia também podem ser vistas sob essa luz. Gosto de ter um pouco de dúvida, de não saber o que vou fazer”, ele diz: “Eu também percebi que meus fãs não têm aquele preconceito de ‘Oh, ele é um cantor e compositor, tudo vai soar igual.’ As pessoas que vêm me ver sabem que não estou comprometido com nenhum gênero. O denominador comum é minha voz. Minhas letras.”

Ferreira possui uma capacidade incrível de perscrutar as ligações que todos partilhamos e transpô-las para a poesia. Em “Me La Saludan” ele usa o sarcasmo para expressar o peso das feridas que ainda não cicatrizaram. Em sua nova faixa, “De Verdad”, ele implora pelo amor em toda a sua complexidade. O amor “como uma decisão”, reflete o artista.

A versão oficial da música é uma fusão jazzística e otimista. Mas no palco, no pequeno teatro do Joe’s Pub, Ferreira transforma-o numa comovente ode acústica ao longo prazo – uma relação que não se mede em dias ou meses, mas nos momentos que compõem uma vida a dois. Mesmo que você ouça sua música há anos, ouvi-lo tocar ao vivo é uma experiência. A sua voz assume uma qualidade que não se traduz nos altifalantes, é mais vulnerável, mais dimensional e capaz não só de tocar, mas de aproximar o público.

É esta capacidade de explorar a emoção, de expor os nervos à flor da pele com ternura, ao mesmo tempo que conta piadas no palco, que levou ao sucesso e à relevância duradouros de Ferreira, mesmo num momento em que a indústria experimenta um boom indie. Silvana Estrada, Daniél, Me Estás Matando, Guitarricadelafuente — esses são os queridinhos do indie da música latina da atualidade. Ferreira já trabalhou com muitos deles. Os integrantes do Daniél, Me Estás Matando já fizeram parte de sua banda. Mas quando questionado sobre seu papel ou posição no cenário atual, Ferreira, apesar do legado e das conquistas, mantém a humildade.

“Eu nunca pensei nisso em termos de um papel… para mim [Latin music] é como uma corrente e acho que sou apenas mais um elo dessa corrente”, diz ele.”Acho muito legal que essa música possa se conectar não apenas com os latinos de primeira geração, mas também com os de segunda e terceira geração, Latinos que nem falam espanhol, pessoas que nem falam espanhol. Para mim é um prazer fazer parte disso, como um pequeno grão de areia.”

É uma alegria para Ferreira ver seus amigos e os artistas que vieram depois dele terem tanto sucesso. Mas ele também está cauteloso com a direção da indústria como um todo, com tudo caminhando para músicas criadas em minutos para alcançar a viralidade em vez da expressão.

Isso não quer dizer que ele seja antieletrônico. Ferreira frequentemente adiciona elementos eletrônicos à sua música e é fã de artistas com mentalidade experimental como James Blake e Bjork. Ele está mais preocupado com o uso de coisas como autotune e IA como um atalho para a arte do que como um meio de aprimorá-la.

“Quando tudo começa a soar igual, quando as batidas são todas iguais, com a mesma estrutura musical, com os mesmos efeitos e a mesma melodia, sinto que é aí que a máquina vence”, diz.

Mas até então, ele tem fé no processo de fazer “arte imperfeita” e tem alguns conselhos sábios para quem quer ter sucesso na música no clima atual.

“Todo mundo sempre quer mais do que tem. Não caia nessa dinâmica. Faça música porque é a sua paixão, porque você a ama, [and] porque você não pode viver sem ele. Porque, como modelo de negócio, existem melhores por aí”, diz Ferreira com uma piscadela e um sorriso.

Continue lendo para saber mais sobre o ritual matinal de Ferreira, quem é seu artista favorito do momento e seu segredo para encontrar a paz.

PS: Qual é o seu ritual matinal?

Ferreira: Café e música. Se eu não tomar meu café, terei um derrame.

PS: Se você tivesse que escolher apenas um lugar para passar o resto dos seus dias, onde seria?

Ferreira: Madrid

PS: Qual é o seu artista favorito no momento?

Ferreira: Adrianne Lenker.

PS: Você tem uma música chamada “Sonrisa Valiente”. Quem na sua vida você diria que tem o sorriso mais valente?

Ferreira: Minha filha.

PS: Qual é o seu método para encontrar a paz?

Ferreira: Música. Cantar, tocar, ouvir, seja lá o que for, é terapêutico para mim.

PS: A melhor parte de ser pai?

Ferreira: Conectando-me novamente com minha criança interior. Aproveitando aquela infantilidade que perdemos na vida.

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